sábado, 20 de abril de 2013

Um Filho de Ninguém



Depois de tantos anos sem te ver 
encontrei-te por acaso à saída do café.
Tu não me viste...
Levavas uma criança pela mão e esboçavas o resto do fumo do cigarro.
Continuavas de costas, bebi o meu café e...
Fui até onde me levavam... a tua presença.
Disseste o meu nome e à criança disseste:
Esta senhora é a tua avó.
Sabes, eu tenho nome, não sou apenas uma identificação.
Olhaste para mim e...
Não me olhaste... Não viste. 
Reparaste apenas num passado, por detrás de um muro e...
Não tiveste o coração de te mostrar.
Que pena...
Durante muitos anos no meu sonho imaginava-te
criança humilde, linda e pura e...
De repente a realidade é outra,
de repente cresceste sem valores.
Eras inconfundível.
Tive tanto medo de não te reconhecer,
mas Deus e todos os meus amiguinhos de luz mostraram-me o caminho... tudo!
Uma nuvem passageira que logo se dispersa 
e eu fiquei com a sensação de ter chovido e...
Não passou de uma miragem... esta tua passagem. 
Aquela criança humilde não existe. 
A vida fez-lhe muitos estragos, onde nada se aproveita...
Apenas ficaram os cacos.
Mas um dia vi o teu rosto, a tua luz de menino...
Fica apenas a lembrança de um sonho.