quinta-feira, 27 de junho de 2019

A Morte


Nasci contigo…
Em meu ventre te gerei e aprendi a viver contigo…
És companheira de sempre…
Provocas alegrias, provocas a dor…
És um estado de espírito que amedrontas todos nós
com os medos das perdas…
Perda da segurança que a vida nos dá…
Medo do vazio…
E até da própria imagem debaixo da terra,
onde a imaginação nos obriga a rejeitar-te…
Para mim és o descanso, és o amor, és a paz de espírito…
A solução para os infelizes, a solução para os doentes físicos,
como também para o covarde…
E aqui chamo à atenção…
Depois de fazerem todos os disparates,
utilizam a morte para um reconhecimento…
A morte é vista, em muitas religiões, como um nascimento,
um renascimento, um festejar a vida, 
a morte física como o nascer de um espírito..
Em meu ventre um grito de agonia traz de volta 
uma realidade que se transforma em saudade…
O luto dura a vida interna, porque a externa funciona como um robô…
Lágrimas rolam no meu rosto e perdem-se no espaço…
A solidão é solidificada pelas memórias de um porta-retratos
esquecidas e amareladas pelo tempo,
afogada em corpos de vinhos embebedados 
pelo cheiro de roupas usadas, de ruas e calçadas percorridas
num cambalear chocante a uma sociedade feita de hipócritas 
e para mortos vivos, zombies…
A morte permanece sempre em nós, quer física ou espiritual…
Tudo se transforma, tudo é transformado…
Ainda hoje a prolongamos ou tentamos prolongar,
mas ela engana-nos sempre…
Quando menos se espera aí está ela…
O segredo da morte é viver…