Sentada no banco das urgências do hospital, à espera de ser consultada,
deparo-me com um borbolhar de vozes
que foram aumentando consoante a situação que se estava a passar
e que acabou por se tornar numa peixeirada
e num lavar de injustiças de ambos os lados.
De que lado estou?
Da justiça!
Ambos têm o seu ponto de vista e a sua razão.
Se um dia sou doente, outro dia sou acompanhante.
E em ambos os casos preciso de um médico, preciso de ajuda...
Por isso fui ali... ao hospital.
Fui eu que procurei...
Eu vou para um hospital, neste caso urgência, por doença,
ou por doença de um familiar (como acompanhante).
As regras dos hospitais são todas iguais.
Há os casos muito urgentes e os menos urgentes.
Quem tem que defenir a gravidade da doença é o médico.
A sua função é salvar vidas.
Chegamos muitas vezes sem força alguma,
por vezes até inconscientes e quem lá está...?
O doente não aceita a demora, reclama...
Como, se está sem forças? Contradição...
E aqui entra a peixeirada...
Existe de tudo, mas o mais importante para o médico é salvar uma vida...
São zelosos...
Também muitas vezes estão cansados...
Têm família, mas o seu objectivo é salvar vidas.
Não entendemos e misturamos tudo...
Os nossos sentimentos, dores, família, cansaço num só foco... o médico...
Como se ele fosse culpado de eu estar ali.
É verdade!
Nós temos médicos competentes e, até digo,
jovens médicos inteligentes, dedicados e muito humanos.
Com humildade e carinho estendem a mão... num gesto de amor...
Mas voltando à peixeirada que assisti que não é mais do que um mix de sentimentos...
Os acompanhantes com a aflição de ver o seu ente querido a sofrer
resolvem levantar falsos testemunhas,
competindo com os médicos, anulando a sua sabedoria.
É um levantar de vozes, onde lhe foi entregue a vida de seu familiar.
Pode um cego guiar outro cego?
Não caiam ambos no barranco.
(S. Lucas)
Ou porque vês tu o argueiro no olho de teu irmão
e não reparas na trave que tens no teu próprio olho?
(S. Mateus, 7)
Não julgueis, para que não sejais julgado...
Estamos numa urgência do hospital e não num palco de teatro,
porque os pobres de espírito esperam pelos aplausos...
É um local de silêncio, não de peixeirada...
Onde se confundem valores, onde se confundem reacções...
É um local para uns de morte, para outros de vida.
É o nascer, é o morrer...
Existiu, existe e existirá sempre nas urgências vida
e eu tenho a urgência de dizer:
Peixarada, desculpem quero dizer caldeirada, só no prato...
Bom apetite!
Respeitem!