quinta-feira, 6 de março de 2014

A Lei das Ruas



Nasci para a vida e na vida não escolhi nada, a não ser querer viver...
Não interessa o corpo ou o local, apenas o nascer...
O sentimento do homem é imprevisível,
tanto o amor, como o abandono e a rejeição...
Preciso com urgência de corpos perfeitos para mostrar 
à sociedade o que consegui fazer...
Vou para a rua esmolar um olhar, nem que seja de piedade,
mas olham com pena...
A rua é de todos e é de ninguém...
Não tenho a mãe a dizer,
filho queres leitinho quente, filho tens frio...
Apenas tenho como tecto a lua, o sol e durmo sobre a relva
num orvalho transparente, húmido, gelado
do vento rasteiro que varre o lixo leve...
Folhas chocalham como guizos de alerta,
onde os morcegos da noite passam beliscando
o pão da fome, duro pelo tempo, encontrado aqui, ali...
Sorrio pelo banho da chuva e o sabonete de terra
limpa a sujidade de almas cansadas de caminhar para um vazio...
Rastejo na esperança de encontrar a minha mãe...
Uma procura fantasma, porque não sou filho de ninguém...
Vivo num jardim zoológico e a troco de umas moedas rastejo pela vida...
Sou igual a ti, porque nasci de uma mãe, hoje mulher...
Mas sou diferente...
Não fui eu que pedi...
Afinal onde é que está o meu erro?
A vida dada, a vida vivida...