Abro a mala e ponho lá dentro tudo o que me vem à mão...
Por vezes, não é o que preciso, mas o desejo da partida, a euforia...
A viagem torna-me louca...
Sim, uma loucura que transcende o meu peito num grito abafado
pelo acumular de várias roupas fechadas na mala...
Se eu fosse do mundo, o mundo amaria o que era seu...
Como todavia não sou, pertenço ao mundo dos loucos...
Loucura de correr contramão, contra regras...
Loucura do colorido das asas do papagaio...
Levo na minha bagagem retalhos de uma vida...
O chapéu tapa o sol de um caminho,
como o calor da sede que tenho de correr
nas curvas da auto-estrada marcadas por cicatrizes de sapatos apertados...
Choro a sola que me faz andar, andar perdida num horizonte longínquo...
No desfecho de encontrar o pôr-do-sol, paro...
Águas da ribeira lavam o meu rosto
queimado pela poeira do tractor no lavrar da terra,
onde espigas de trigo são servidas na mesa da fartura
e da loucura percorrida sem eira nem beira...
Assim sou...
Loucura de vida e de costas voltadas para o mundo...
Apenas levo nas minhas mãos calejadas uma mala de transformações,
onde tudo existe e nada existe a não ser a loucura...