domingo, 30 de março de 2014

A Corrente


De mãos dadas fazemos a corrente da vida, o dar e o receber,
mas só é possível se estivermos em sintonia...
Há mãos que se agarram à vida como a sobrevivência, 
outras que se deixam escorregar porque lhes vão faltando as forças
e este elo, esta corrente será a rede de protecção que preciso...
Pego na tua mão, junto ao meu peito, e respiro a certeza da fortaleza 
de uma corrente que me liberta desta fragilidade
e a promessa da segurança nos teus braços...
Adormeço na resistência de aço pelo afago de palavras correntes 
e ouvidas num mundo com vontade de vencer cada dia.
Temos a ponta da corrente entre o começar e o terminar...
Duas razões opostas que lutam procurando cada uma o seu lugar...
Vence o elo mais forte, não só fisico como intelectual, sabedoria...
Mas a força do querer, a liberdade arrebenta,
partindo toda uma vida, corrente, mesmo os braços mais fortes...
As fibras desfazem-se e os tendões ficam presos algures...
Olho a vida de mãos dadas, ainda a acreditar
na corrente da amizade, do amor, do respeito...
Deito o meu rosto com delicadeza na tua mão e vejo como sou criança...
O tempo passou e encontro um esqueleto de alguém desaparecido...
Ficou a saudade e o lugar nunca esquecido...
De mãos dadas, a corrente... 

A Bola de Cristal


Pego nas minhas mãos e um futuro vislumbra-se na bola de cristal...
Na minha vida transparente revejo com clareza
todos os pormenores em pedaços de vidas espelhadas,
de um futuro espelhado na minha mente...
Cartomantes acenam o princípio de um bailado,
onde a rainha passa a ser a bruxa má...
Escondo em mim a dor da perca...
Videntes vislumbram o presente de um futuro desejado...
De olhos transparentes dizem-te sorridentes a tua vida, vê...
Feliz, pego na minha bola de cristal com muito carinho e amor,
porque não passa afinal do meu desejo, da minha mente, do meu consciente,
e danço com espíritos a dança da felicidade
que é um abanar de consciências na procura pela vida,
fora de esperas que ansiamos, de um mundo melhor...
Pela penumbra da noite vivo o pensamento da vida
com a inteligência de obedecer a todas as regras justas formatadas por mim...
Atravesso o ponto entre o bem e o mal
e encontro a fada dos desejos outrora esquecida na bola de cristal
que me oferece a sua varinha mágica e me diz,
onde tu tocares tudo se transformará segundo o teu desejo,
todos os teus desejos se realizarão...
Estás livre de seres prisioneira de adivinhações...
Tens o segredo da mente...
Saiba usá-la!
A bola de cristal é a luz que todos nós temos dentro de nós próprios...
Utilizem sem medos e verão a magia da vida! 
  

sexta-feira, 28 de março de 2014

O Silêncio



Fico escondido da vida, prisioneiro de um tempo, o corpo...
Sorrisos de alegria, no nascer como no morrer,
percorrem rostos molhados no desespero do ladrão de vidas...
No silêncio da vida vejo na floresta pedaços de galhos caídos
num sobreviver da transformação de uma nova árvore...
Descanso os meus olhos quebrados e cansados da procura de um nome
que me traz a saudade num abraço perdido pelo tempo...
Canto e louvo o amor perdido e fechado no castelo escondido
como o Corcunda de Notre Dame...
Em corredores sombrios o dia é noite e a noite é apenas um dia...
Silêncio na minha alma no voar de casa em casa,
onde números são confundidos com seres humanos 
e levantam cruzes num cruzar de destinos...
Numa despedida à terra fica a lágrima perdida no jardim da vida
que rega a alma pela lembrança de um espírito vivo...
E no retrato fica a felicidade de te ter neste meu silêncio...

O Mundo



Mundo redondo, mas muito transparente...
Os meus olhos procuram ângulos
nas falhas do rodar para me posicionar melhor.
Uma transparência que incomoda curiosos
num espreitar águas límpidas sobre o olhar luminoso de um raio de sol...
Mundo de passos importantes,
onde se desvia a atenção para documentos sem rosto
e sorrisos de promessas de contratos esquecidos no pagamento à mesa,
sobre o olhar atento da garrafa de vinho,
numa dança de exorcizar um espírito...
Abro a porta e vejo o mar descalço pelo cansaço
de uma corrida dos ponteiros do relógio e a pergunta que faço é,
quem sou eu neste mundo?, o que faço aqui?...
Se nego aceitar a derrota das palavras mal dizentes choro a saudade...
Da minha cama, por um instante, vejo o teu rosto...
Sorrio, entro, fecho a porta...
Estou de volta ao meu mundo...

quarta-feira, 26 de março de 2014

A Escola



A vida é uma escola da felicidade...
Temos a alegria, temos a tristeza...
Mal acabamos de nascer temos o sorriso de quem nos ama
e continuamos a receber sorrisos...
A felicidade é um sentimento de bem estar de qualquer espírito...
Traz dentro de nós a capacidade de entrega, de amar e sermos amados...
Na escola também aprendemos que na felicidade
temos alegria, harmonia, verdade e toda uma escolha de bem estar ...
Todos estes sentimentos têm por base o amor, 
a raíz quadrada para a base da resolução de muitos problemas emocionais...
Deixarmos ser amados por quem gosta de nós, por quem nos ama, 
por quem precisa de amar é o segredo de uma aprendizagem,
porque no sentimento cabem muitos amores de diferentes cores, 
raças, credos, de pai, mãe, filhos, avós, amigos, colegas...
Tudo se escreve no quadro da vida com o giz e o apagador.
Escrevemos na ardósia da vida e corrigimos o que é preciso...
A tristeza, para mim, é um sentimento que todos os dias
tento apagar, não porque o tenha, mas porque existe nesta escola...
Apago, faço delete...
Nessa tristeza fica a capacidade de saber perdoar, seguir em frente
e de a enfrentar com inteligência e sabedoria , com um sorriso de orelha a orelha...
É assim que aprendemos na escola da vida...
Ao fim de muitos anos temos o curso, com direito a diploma,
que nos diz, parabéns, tirou o curso da felicidade!
Saiba utilizá-lo para seu benefício.
Assim é a escola da vida...
  

Os Sentimentos


 Um estado de alma, onde são sentidas as emoções.
Todas elas têm uma característica muito boa ou muito má.
Há vários tipos de sentimentos
todos eles são sentidos pelo coração e não pela razão.
O homem habituou-se a amar o que, correctamente, a sociedade exige...
Ela, alta, loura, bonita, jovem...
Ele, jovem, bonito, charmoso...
Mas só na juventude se ama...
Um mundo diferente de uma geração
onde se permite amar tudo e todos de uma forma intensa...
Necessitamos de uma procura incansável,
de um sentimento novo, porque o que passou cansa
o estado de espírito em conjunto com a minha personalidade
que me rasga e me proibe de amar como quero....
Num coração cabem vários sentimentos, 
como também cabem várias formas de amar...
No sentimento não se mexe, sente-se, silenciosamente, 
as palavras não ditas, mas sentidas e vividas...
O sentimento de amar a vida, o trabalho, as férias,
a família, o amor são estados definidos por mim e com prioridades...
Mas o amor é invisível, transparente, silencioso, 
lindo com dose de ciúme saudável, sorriso, ansiedade,
saudade, felicidade de estar bem...
Pode durar anos, mas sempre vividos com sentimentos...
Prolonga a vida e e evita ataques cardíacos...
Não, o coração não é vermelho, o amor não é vermelho...
Em cada sentimento a cor vem de acordo com o amor,
com a necessidade de amar...
Sentimentos, sensações...
É um batuque de borboletas no nosso corpo que fazem a magia de amar...
Amo e gosto de amar tudo o que a vida me oferece...
O sentimento é doce, delicioso, é chocolate...
Ame também e verá a resposta da vida...
Amor!
   

terça-feira, 25 de março de 2014

Minha Luz



Caminho pela estrada e encontro a clareza de um clarão de luz,
um choque que arrepia os cabelos pela sua densidade...
Luz, minha luz, traz-me de volta a transparência
de um espelho sem queimar a imagem.
Derreto-me de felicidade transformada em promessas de cera...
Rezo a oração de agradecimento na chama da fé...
Luz, não se pode esconder porque somos todos espíritos de luz,
onde a escuridão condena o click e joga com palavras diabólicas
e com acções que produzem o afastamento.
Muitos virão em meu nome dizendo,
eu sou a luz do mundo, foge destes, S. Mateus.
Porque são cordeiros vestidos de lobos.
E nós, infelizmente, conhecemos alguns...
Minha luz suave, doce que me ilumina toda a vida
com a esperança de nunca se apagar...
Pego em ti, percorro cidades, montes, automóveis
com a coragem de me sentir eléctrica.
Digo em alta voz, minha luz...
Barragens de quilómetros de água, evaporação em sede de luz...
Hoje, deitada na cabeceira da morte vejo-te como uma noiva,
como um anjo, na despedida da vida...
Um choque, uma luz, a minha luz!

A viagem...


Preparei a mala feliz para a minha viagem de sonho,
quero dizer de sonhos...
Sim, porque tenho muitos sonhos 
e sempre se realizaram ao longo da minha vida.
Sinto na minha alma um desejo grande de voar
na  liberdade  das asas da vida...
Pergunto a mim mesma porque todo o espírito 
fica prisioneiro num corpo que o limita...
A viagem...
Há várias viagem, mas sempre com ida e volta...
Até mesmo na morte termina o ciclo do corpo,
mas a viagem começa aqui...
Na minha bagagem tenho o desejo de estar e conhecer culturas,
onde a minha alma chora por elas,
não porque não goste do local onde me encontro,
pelo contrário, estamos onde queremos estar,
mas como espírito andante  que sou ...
Vivo na minha viagem de luz...
Gosto das culturas árabe, índia pelas suas tradições...
O colorido, as vestes, os sabores,como o lamento,
o chamamento da mesquita num cântico de Fé...
África, o calor da vida, a muralha da China,
como o Machu Picchu pelos caminhos descalços do povo,
onde os degraus nos elevam o pensamento 
até ao fundo da nossa alma
numa meditação profunda para um renascimento...
Todos nós na vida fazemos muitas viagens,
mas esquecemo-nos de a  preparar... 
Não sabemos alimentá-la com o acreditar...
Basta levar a escova de dentes, a higiene mental,
e tudo o resto é acrescentado...
A viagem é o símbolo de muito trabalho...
Viajo também pelos os olhos da alma,
como também pelos olhos de um corpo mágico
que nos provoca a ilusão de estar onde não estamos...
Cheguei ao final de uma etapa e trago memórias felizes numa partilha...
As mais lindas imagens não podem ser tocadas,
mas sim vivido cada momento especial e único...
Desejo-lhe uma boa viagem!
Have a nice trip!


segunda-feira, 24 de março de 2014

O Perfume



Perfume, a essência da característica de cada ser humano...
No teu corpo procuro o cheiro que te identifica...
Estradas de frascos interrompidas pela evaporização do tempo...
Caminhos de florestas, onde o teu espírito habitante
mostra as raízes de plantas tocadas
e transformadas pelas tuas mãos
e pelos paladares de sabores...
Saboreio à mesa toda uma gama...
O frasco, grande ou pequeno, está de acordo
com o desejo da mistura de aromas...
Basta escolher o que queremos...
Entro dentro de ti depois de muito trabalho
e consigo ver a tua essência, é verdadeira...
E por onde passo o cheirinho é de uma elegância,
de um virar de cabeças, de um olhar...
Troco abraços numa felicidade imensa... 
Há um brilho no jogo de palavras,
como também a venda de sonhos desejados...
As luzes já vão altas, o perfume intenso e junta-se o cheiro da cigarrilha 
que provocam a embriaguez de cheiros e perdemos a identificação...
Fica apenas um, o meu ou o teu...
Finalmente vou poder usá-lo com o desejo por ti...
Perfumo a vida de acordo com os cheiros e cada descoberta...
Vejo o sol quente que perfuma a Primavera nos seus campos maravilhosos...
Sim, o perfume é a beleza dentro de nós...
Escolha sempre de acordo com o seu querer perfumado...
    

domingo, 23 de março de 2014

A Ponte



Atravesso rios, mares, cimentos em busca de uma saída...
São campos opostos, entrada, saída, ambas com o mesmo fim, a travessia...
Procuro o teu chamamento na flor cor de azul,
onde a tua voz perdida em alto mar, 
ventos provocam tsunamis no coração da alma...
A tua imagem descalça relembra a teimosia da calça arregaçada,
onde a marca do chinelo traz-me o sabor a coco bebido
pela tua palhinha num sopro de vida...
A procura é intensa, mas o vai vém de espíritos andantes
trazem a lembrança da pressa de viver ao teu lado...
Quero pensar mas a pastilha ficou colada e presa...
Neste elástico de jumping controlo as emoções...
Nesta cesariana atravessada a cicatriz vai fechando um ciclo,
dia após dia, e encontro a saída...
Quando pensamos na entrada já estamos na saída...
A ponte traz a vida...
A vida é uma ponte entre o nascer e o morrer...

sábado, 22 de março de 2014

O Amilcar



Hoje, venho contar a história do Amilcar.
Na nossa infância sonhamos em ter um urso.
Sim, um urso de peluche.
Mas este é diferente, é um urso de ninguém...
Nasceu pela imaginação e mãos do homem numa fábrica,
onde cada pedaço de tecido era preenchido por algo que fazia volume.
E pouco a pouco vou tomando forma de urso.
Nesta altura não tenho nome.
Vou ser exposto em praça pública, numa montra
para que todos me vejam e me desejem...
Ouço comentários, mamã tão giro, queria tanto...
Resposta, hoje não, não posso...
E lá fico sozinho mais uma noite, 
até que um dia uma senhora pegou em mim e disse, 
és tão lindo! Vou levar-te para o meu neto!
Fiquei silcencioso à espera desse milagre e assim aconteceu...
Pegou em mim como se fosse um bebé
com os olhitos tão felizes por me ter a mim...
Finalmente, encontrei a minha família...
Deram-me um nome e sou tão feliz...
Em toda a nossa vida também somos tratados como coisas.
Põem e dispõem de nós como se não tivessemos vida.
Somos deixados de lado e passamos a fazer parte da mobília.
Até que um dia o nosso sonho, como o do Amilcar, se torna realidade...
A força do amor faz o milagre da vida...
E de volta à vida sou feliz e faço feliz esta família maravilhosa...
Obrigado!

O Sonho


Sonho acordado com a rapidez da vida...
No meu sonho vagueio o espírito
numa procura galopante sobre o trançar do pelo...
Visto-me a rigor para a cerimónia do despertar de te ver...
Um sonho dormido nas tuas mãos...
Calor do beijo de boa noite...
Vivo a minha infância protegida pelo embalar doce
de música suave nos meus ouvidos...
Vejo a luz na escuridão dos meus medos
e choro todas as perdas da saída apressada de uma mãe...
Pelo trabalho deixo de viver um sonho nos meus sonhos...
Durmo na procura de um dia crescer, sonhar e viver sonhando...
O sonho comanda a vida...
Sem eles deixamos de acreditar...
Sonho, fé de um menino...

A Aliança


Num entrelaçar de dedos sinto o calor das mãos frias, 
suaves como a tranquilidade de um olhar...
Vejo a aliança entre as tuas mãos 
e um pedido silencioso na surdez da calada da noite...
Vejo a obsessão no teu pensamento do quebrar da aliança...
Procuro o teu olhar de felicidade no brilho do ouro 
pela aliança de um juramento de amor eterno...
Perante o altar de flores primaveris peço a Deus
toda a protecção entre as duas mãos...
Um elo, um compromisso de respeitar, ser fiel com os valores morais...
Ajoelho-me em devoção moral e cada uma delas será entregue a vós...
Recebe esta aliança como compromisso de respeito,
de um amor intenso como o café...
Mas depois de saboreado fica o vazio na chávena...
E de mãos dadas caminho por duas vias, por vezes opostas, mas sinceras...
Afinal é tudo a imaginação no prolongar de um desejo de alianças,
palavras de acordos da grandiosidade da verdade, da sinceridade...
Esta é a minha aliança...
De mãos dadas caminho para a vida numa aliança de entrega...
Corpo e alma, assim...  

terça-feira, 18 de março de 2014

Pai



Com três letrinhas apenas se escreve a palavra Pai...
É das palavras mais pequenas, mas a maior que o mundo tem...
Pai  ausente, Pai presente, apenas Pai... 
Nasci sobre a tua força entre os braços do amor.
 Embalaste-me com o teu sorriso, com um olhar cuidadoso,
com a verdade sempre presente nas tuas atitudes,
na aliança de promessa, de honestidade,
fidelidade, numa vida de trabalho e amor...
Sempre  com diálogos brincalhões...
Ensinaste-me a confiança e a liberdade de dizer, 
a fazer pela vida sempre com a responsabilidade
de não faças aos outros aquilo que não queres que te façam...
Como Pai, sempre presente...
Como marido, respeito... 
Partiste e deste-me tempo para me despedir de ti...
Não choro, porque não acredito na morte, mas, sim, no espírito...
Estejas onde estiveres és e serás sempre o meu Pai...
Pai ausente transporta com ele os filhos
 na saudade de um afago, de um sorriso
e até na oferta de um computador para descontar o tempo ausente...
Pai ausente é como o filho ausente ...
 São cordas,  em nó de marinheiro, que se seguram com a fortaleza do aço...
O amor presente, um porto seguro para o teu abraço... 
As circunstâncias da vida fazem caminhos cruzados,
mas, também, nós não sabemos voltar atrás e dizer, amo-te Pai...
Na tua partida, flores, um carreiro de formigas negras
e pedaços de terra em palavras são ditas, descansa em paz...
Hoje, vivo com a aprendizagem que me ensinaste na morte...
O perdão constante...
Continua na vida o que tu és...
O amor são as tuas obras...
 Só assim será eterna a memória...
Para ti Pai, amo-te!

A Atitude


Percorro caminhos numa busca incessante 
de atitudes para comigo mesmo...
Percorro desertos onde cactos estendidos no areal
formam dunas encobertas pela força do tempo...
Aguardo, pacientemente, que a tempestade dos medos 
seja abafada por um grito de liberdade e de felicidade...
Descalços, os meus pés queimam
e os grãos de areia soltos da cor do café trazem 
à lembrança o cheiro da terra molhada...
O desejo da atitude, para mim, torna a certeza
de ter a luz nas minhas mãos...
Brilho de dia, brilho durante a noite...
Não quero deixar partir a linha do horizonte, marco da vida...
À atitude junto a força do querer...
Com a delicadeza do sorriso sigo em frente e vejo-te...
Pego, nas minhas mãos, na áurea verde da esperança
e espero que nunca se derreta em cubos de gelo...
A sonolência traz ao meu coração a certeza
e, com certeza, a atitude certa...

O Preservativo



Pego em ti com o prazer de ter prazer...
São smarties coloridos que me apetece saborear, em certos momentos,
e por uns instantes derretem-se no meu paladar...
A agitação com a aflição torna a pressa a inimiga da utilização,
por vezes falhada, pelo tempo parado de espera...
Quando usado é como um apertar o cinto...
A respiração fica enevoada pelo excesso de temperatura 
e o balão mágico foge-nos do controlo...
Restam apenas vidas não nascidas pelo prazer de deitar fora...
Se estou a escrever um conto erótico?
Sim, também, pode ser, até porque faz parte da vida...
Mas não, estou a falar de vidas...
Temos o prazer de utilizar, pôr e dispor do ser humano.
Prazer esse que despejado de línguas maldizentes
deixa no preservativo restos de vidas magoadas, afogadas,
apenas com a certeza da não sobrevivência...
A felicidade de te desembrulhar na total nudez de valores
fica ao dispor do teu mal carácter e deixas-me num canto jugado
de uma má experiência escondida aos olhos julgados...
O preservativo evita muitas doenças contagiosas,
mas não consegue evitar a má língua, a maldade, 
mesmo antes de nascer...
É um bem necessário para a humanidade...
Utilizem-no não com a vergonha...
Vemos caras e não vemos corações...
Vemos corpos, mas corpos doentes, 
sedentos de morte pelo prazer da vida...
Vivam e deixem viver...

Retalhos


Rasgo um sentimento em retalhos...
Pedaços de vida quebrados no meu corpo
como as estalactites perdidas nas grutas profundas...
Minha alma no mar gelado...
Passeio o meu espírito por mundos proibidos,
sinto no meu corpo retalhos arrancados por tuas mãos
cobertos por um sorriso no voar da cegonha...
Ninhos feitos em correntes de luz...
Nasço de transformação de cirurgias
e disfarço a cicatriz desenhada pela dor da partida...
Retalhos com histórias lembradas e contadas pela cor da mentira...
Lágrimas de sal transformam-se em suspiros doces, muito doces...
Reconstruo em puzzle a perfeição da minha alma,
num nascimento completo, onde os retalhos são apenas lembranças...
Vida de retalhos transforma-se em momentos, apenas...
Vida de palavras, fica o eco na montanha...
Vida de acção, o sonho realizado...
Vida de ilusão, o vazio...
Retalhos, apenas pequenos nadas, mas juntos constroem...
Retalhos, sim...
Sou apenas um retalho perdido por alguém
na esperança de ser encontrado...
Retalhos...

Shukran



Nas tuas mãos desenho toda uma vida...
A intensidade com que é desenhada
revela um colorido de Primavera.
Desejos de agradecimento de par em par...
As borboletas voam como se tinta fosse,
marcando a sua passagem leve e suave, 
poisando nas minhas mãos limpas de preconceitos...
Percorro o calar da voz da mesquita num casamento predestinado 
de mantos coloridos que ficam tatuados no teu olhar...
Em cada linha um desejo que se realiza a cada segundo de fé...
Mãos mostram a verdade do desejo,
desejado de um tempo realizado na esperança
de uma união de duas mãos...
As linhas também marcam o trabalho de paciência 
com resultados de pintura histórica...
Paciência de agradecimento a um mundo e tradições desejadas,
a religiões casadas mas de diferentes etnias...
Apenas Shukran...

domingo, 16 de março de 2014

A Vida


Seguro em ti com a delicadeza que mereces...
A transparência do teu rosto dobrado por uma lente de aumento,
a água nos teu lábios são a prudência misturada com um pouco de loucura...
Dão razão à vida reflectida como um espelho...
O teu rosto bem delineado pelo pincel dos teus olhos...
Sorriu pelo deslizar nos teus cabelos, pedaços de caracóis
que se enrolam nos meus dedos...
O anel de pertence brilha como o sol de satisfação de te ter na minha mão...
Um olhar, um copo, a água que transborda a vida 
transformada pelo álcool que vicia a gargalhada descontrolada...
Pego em ti e revejo a criança perdida no oceano sem saber nadar.
Mas o teu corpo frágil transforma-se em segurança
apertada de uma vigia nas quebras, no partir, na morte
reduzida a cacos e irreconhecível, num vidro transpartente,
onde águas lavadas de várias maneiras levam pedaços de mim para ti...
Pego em ti, vida!