terça-feira, 18 de março de 2014

O Preservativo



Pego em ti com o prazer de ter prazer...
São smarties coloridos que me apetece saborear, em certos momentos,
e por uns instantes derretem-se no meu paladar...
A agitação com a aflição torna a pressa a inimiga da utilização,
por vezes falhada, pelo tempo parado de espera...
Quando usado é como um apertar o cinto...
A respiração fica enevoada pelo excesso de temperatura 
e o balão mágico foge-nos do controlo...
Restam apenas vidas não nascidas pelo prazer de deitar fora...
Se estou a escrever um conto erótico?
Sim, também, pode ser, até porque faz parte da vida...
Mas não, estou a falar de vidas...
Temos o prazer de utilizar, pôr e dispor do ser humano.
Prazer esse que despejado de línguas maldizentes
deixa no preservativo restos de vidas magoadas, afogadas,
apenas com a certeza da não sobrevivência...
A felicidade de te desembrulhar na total nudez de valores
fica ao dispor do teu mal carácter e deixas-me num canto jugado
de uma má experiência escondida aos olhos julgados...
O preservativo evita muitas doenças contagiosas,
mas não consegue evitar a má língua, a maldade, 
mesmo antes de nascer...
É um bem necessário para a humanidade...
Utilizem-no não com a vergonha...
Vemos caras e não vemos corações...
Vemos corpos, mas corpos doentes, 
sedentos de morte pelo prazer da vida...
Vivam e deixem viver...